“Dizia Montesquieu
que ‘o esplendor que envolve o rei é parte capital de sua própria pujança’.
Mais do que um elogio, a consideração sintetiza particularidades da monarquia,
ou mesmo, a dimensão simbólica presente em qualquer tipo de poder público e
político. Com efeito, se é só a realeza que introduz o ritual em meio à sua
lógica formal e no corpo da lei, pode-se dizer, porém, que não há sistema
político que abra mão do aparato cênico, que se conforma tal qual um teatro;
uma grande representação.”
“(Os monarcas)
foram os inventores do marketing político e nesse sentido fizeram escola (...).
A propaganda surge como meio de assegurar a submissão ou o assentimento a um
poder. (...) Na verdade, esculpida de maneira cuidadosa, a figura do rei
corresponde aos quesitos estéticos necessários à construção da ‘coisa pública’.
Saltos altos para garantir um olhar acima dos demais, perucas logo ao levantar,
vestes magníficas mesmo nos locais da intimidade; enfim, trata-se de projetar a
imagem de um homem público, caracterizado pela ausência de espaços privados de
convivência. Tal qual um evento multimídia, o rei estará presente em todos os
lugares, será cantado em verso e prosa, retratado nos afrescos e alegorias,
recriado como um Deus nas estátuas e tapeçarias.”
“Exemplo radical
do exercício e da manipulação simbólica do poder, a realeza evidencia, com sua
etiqueta, a importância do ritual na construção da imagem pública. A monarquia
é, nesse sentido, um bom pretexto para a discussão dos vínculos entre política
e manipulação do imaginário simbólico, ou mesmo para a verificação de como
política se faz com a lógica da ‘razão prática’, mas também, com a força de
persuasão da "razão simbólica.”
Lilia K. Moritz
Schwarcz. A fabricação do rei. A construção da imagem pública de Luis XIV.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994, 254 pp. Antropologia, São Paulo: FFLCH/USP,
v. 43, n. 1, p. 257-61, 2000.
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