terça-feira, 5 de junho de 2012

O FALSO FAUSTO


A historiadora Laura de Mello e Souza, analisando a sociedade mineradora do século XVIII, considerou as festas religiosas ali realizadas, um elemento de manipulação social. A pompa e o fausto expressavam a riqueza colonial, a euforia coletiva, numa sociedade em que a maioria era de pessoas desclassificadas, desde escravos até homens livres e pobres.
A festa barroca agradava os sentidos do povo. Ela criara a falsa impressão de que a riqueza é algo desfrutado por todos, ocorrendo a “neutralização dos conflitos e diferença, criando a ilusão de que a sociedade mineira era rica e igualitária”. Ou seja, todo o fausto e ostentação eram falsos.

Segundo a historiadora:
“Parece não ter limites a pompa então presenciada por Vila Rica: danças, alegorias, cavalhadas, figuras a cavalo representando os Quatro Ventos, todos luxuosamente vestidos e enfeitados com pedras preciosas. O bairro do Ouro Preto, onde se situava a Matriz, também foi representado, ao lado da Lua, das Ninfas, de Marte, de Vênus, de Mercúrio, de Júpiter, do Sol, da Estrela d'Alva e da Vespertina, entre muitas outras figuras. O Conde das Galvêas, governador das Minas, assistiu às festas juntamente com ‘toda a Nobreza, e Senado da Câmara’, e Simão Ferreira Machado diz não haver lembrança ‘que visse o Brasil, nem consta, que se fizesse na América ato de maior grandeza’.” (Adaptado de SOUZA, Laura de Mello e. "Desclassificados do Ouro". Rio de Janeiro, Graal, 1990, pp. 20-23)

Agora é com vocês. Está aí um teste da Uff de 2005, já com o gabarito da alternativa correta.
“ As festas e as procissões religiosas contavam entre os grandes divertimentos da população, o que se harmoniza perfeitamente com o extremo apreço pelo aspecto externo do culto e da religião que, entre nós, sempre se manifestou (...). O que está sendo festejado é antes o êxito da empresa aurífera, do que o Santíssimo Sacramento. A festa tem uma enorme virtude congraçadora, orientando a sociedade para o evento e fazendo esquecer da sua faina cotidiana.(...). A festa seria como o rito, um momento especial construído pela sociedade, situação surgida "sob a égide e o controle do sistema social" e por ele programada. A mensagem social de riqueza e opulência para todos ganharia, com a festa, enorme clareza e força. Mas a mensagem viria como cifrada: o barroco se utiliza da ilusão e do paradoxo, e assim o luxo era ostentação pura, o fausto era falso, a riqueza começava a ser pobreza, o apogeu decadência" (Adaptado de SOUZA, Laura de Mello e. "Desclassificados do Ouro". Rio de Janeiro, Graal, 1990, pp. 20-23) Segundo a autora do texto, a sociedade nascida da atividade mineradora, no Brasil do século XVIII, teria sido marcada por um "fausto falso" porque:
a)
a mineração, por ter atraído um enorme contingente populacional para a região das Gerais, provocou uma crise constante de subalimentação, que dizimava somente os escravos, a mão de obra central desta atividade, o que era compensado pela realização constante de festas;
b)
o conjunto das atividades de extração aurífera e de diamantes era volátil, dando àquela sociedade uma aparência opulenta, porém tão fugaz quanto a exploração das jazidas que rapidamente se esgotavam;
c)
existia um profundo contraste entre os que monopolizavam a grande exploração de ouro e diamantes e a grande maioria da população livre, que vivia em estado de penúria total, enfrentando, inclusive, a fome, devido à alta concentração populacional na região;
d)
a riqueza era a tônica dessa sociedade, sendo distribuída por todos os que nela trabalhavam, livres e escravos, o que tinha como contrapartida a promoção de luxuosas cerimônias religiosas, ainda que fosse falso o poderio da Igreja nesta região;
e)
a luxuosa arquitetura barroca era uma forma de convencer a todos aqueles que buscavam viver da exploração das jazidas que o enriquecimento era fácil e a ascensão social aberta a todas as camadas daquela sociedade.

Alternativa C.

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