quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O BRASIL DO SEGUNDO REINADO

    “Paralelamente à vinda de europeus, assistimos, principalmente durante a segunda metade do século xXIX, a migração de costumes. Em todos os aspectos do cotidiano brasileiro procurou-se imprimir a marca europeia. No café da manhã, por exemplo, o pão ‘francês’ substituiu a mandioca cozida, enquanto, no almoço, a cerveja começa a ser registrada, e, na sobremesa, os sorvetes disputam, palmo a palmo, com centenários doces, cujas receitas foram transmitidas de geração a geração nas fazendas açucareiras coloniais. As formas de tratamento também não ficam imunes ... expressões tradicionais,  portuguesas ou resultados da influência africana, como dona, sinhá ou yaya, dão lugar a denominações afrancesadas, tipo mademoiselle ou, mais popularmente, madame. No vestuário, apesar do clima tropical, adotaram-se a lã e o veludo como padrão, em roupas sobrepostas. (...) As cores vivas, (...) também tendem a ser substituídas pela sisuda e puritana cor preta. (...) Nas cidades, os antigos sobrados e casas-grandes dão lugar a chalés ou construções de inspiração neoclássica, enquanto nos jardins substituiem-se as antigas espécies nativas, como maria-sem-vergonha, por exuberantes roseiras, ao fundo acompanhadas não mais por canários-da-terra, mas por seus rivais belgas. Nem mesmo o  submundo da prostituição escapou a esse afã de ser europeu, sendo para tal fim organizado um ‘tráfico’ sistemático de ‘polacas’, russas, austríacas, francesas e italianas; ‘mulheres de má nota’ no dizer da época, que independentemente da nacionalidade, eram cobiçadas por serem brancas.
    (...) As mutações de 1850 tiveram, porém, repercussões não previstas por seus idealizadores. A imigração europeia, e a importação de modas que a acompanhou, tendeu a se concentrar em áreas economicamente mais desenvolvidas. O resultado disso foi o aumento das diferenças culturais entre o norte e o sul do país, assim como entre a cidade e o campo, entre o litoral e o sertão. Era como se a história tivesse sofrido uma ‘aceleração’ nas regiões mais desenvolvidas, enquanto as áreas tradicionais continuassem a reproduzir o modelo de vida herdado do período colonial. (...)”
(In: Del Priore, Mary e P. Venâncio, Renato. O Livro de Ouro da História do Brasil. Ediouro, Rio de Janeiro, 2001.pgs 229-230)

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