quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O RIO DE JANEIRO NO COMEÇO DO SÉCULO XIX

Rio de Janeiro: capital da colônia portuguesa quando a família real foi transferida com toda a sua corte, para por aqui ficar de 1808 a 1821.
Este fato único na história (uma família real se mudar para sua colônia), trouxe transformações estruturais para o Brasil, deixando seus rastros ainda plenamente visíveis. Talvez seja por esse motivo, que o assunto e rendeu um filme (Carlota Joaquina sob a direção de Carla Camurati) e um livro, 1808 do jornalista Laurentino Gomes, ambos voltados para o público leigo, mas sob perspectivas distintas. Enquanto Carla Camurati imprimiu um ar caricato aos personagens, Laurentino Gomes analisa o período como um jornalista que ele é.
Vou postar um trechinho de ambos aqui, começando pela descrição abreviada do cenário encontrado pela família real, a corte, e uma variedade imensa de estrangeiros que aqui chegaram na sequência, da capital do Brasil colônia:
"Observada do mar, enquanto os navios se aproximavam do porto, era uma cidadezinha tranquilha, de aparência bucólica, perfeitamente integrada ao esplendor da natureza que a cercava. De perto, a impressão mudava rapidamente. Os problemas eram a umidade, a sujeira e a falta de bons modos dos moradores.
(...) as ruas, apesar de retas e regulares, são sujas e estreitas (...) "A limpeza da cidade estava toda confiada aos urubus". (...) um estrangeiro que viajou pelo Brasil entre 1819 e 1821, ficou impressionado com o número de ratos que infestavam a cidade e seus arredores (...). Devido a pouca profundidade do lençol freático, a construção de fossas sanitárias era proibida. A urina e as fezes dos moradores, recolhidas durante a noite, eram transportadas de manhã para serem despejadas no mar por escravos (...).
(...) Os hábitos dos moradores não melhoravam em nada esse panorama.
Sob o calor úmido dos trópicos, imperavam a preguiça e a falta de elegância no modo de se vestir e comportar. (...) “As mulheres brasileiras têm, entre outros, o péssimo hábito de escarrar em público, não importando a hora, situação ou lugar”.(...)
(...) O calor associado à falta de higiene gerava problemas colossais na área da saúde. (...) A relação, feita pelo médico Bernardino Antônio Gomes, é espantosa: “Segundo a observação de quase dois anos, que conto de residência no Rio de Janeiro, tenho por moléstia endêmicas desta cidade, sarna, erisipelas, empigens, boubas, morphéa, elefantíase, formigueiro, bicho dos pés, edemas de pernas, hidrocele, sarcocele, lombrigas, ernias, leuchorrea, dysmnorréa, hemorróidas, dispepsia, vários efeitos convulsivos, hepatites e diferentes sortes de febres intermitentes e remitentes”.
(In: Gomes, Laurentino. 1808. São Paul: Editora Planeta do Brasil, 2007.Pgs 157-164)

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