sexta-feira, 3 de agosto de 2012

HERANÇAS DE PRÁTICAS POLÍTICAS


Nada mais apropriado para o momento, quando o julgamento do “mensalão” está prestes a acontecer, do que buscar na história as origens do estado patrimonialista e das práticas do mandonismo.

   Tudo começa desde a chegada dos primeiros portugueses, ou seja, no Brasil colônia. Numa sociedade marcada pelo caráter aristocrático e escravocrata, os grandes proprietários de terras exerciam sua autoridade sobre homens pobres, escravos e sobre a própria família. No âmbito político, a coisa não se diferenciava. O poder público era monopolizado por esses grandes proprietários, em âmbito local, o que resultava o uso desse poder em benefício próprio. Neste contexto, eram comuns as rivalidades entre os elementos dessa aristocracia pela hegemonia do poder.

   Essas práticas chamadas de mandonismo local, impediam o estabelecimento de regras claras para o conjunto da sociedade.

   A partir do Brasil Império, iniciou-se o processo de construção do Estado nacional e suas respectivas instituições. Na regência, por exemplo, foi criado o Código de Processo Criminal, que estabelecia o cargo de juiz de paz, que teria a função de impedir os desvios sociais e políticos da sociedade. A questão é, que o juiz de paz era escolhido pelo voto censitário, ou seja, quem o elegia eram esses mesmos membros da elite local.

   “Havia uma pratica generalizada de troca de favores. Os mais pobres colocavam-se à disposição dos proprietários para eliminar seus adversários, servir de curral eleitoral e ajudar em todo tipo de atividade que reforçasse seu poder. Em contrapartida, recebiam terras para a lavoura, tinham seus filhos batizados pelo senhor, eram ‘protegidos’ contra agressões, etc. A proximidade com o proprietário poderoso gerava status social. Por mais pobre e fraco, um homem livre poderia gabar-se de sua relação de compadrio com o chefe local. Em geral uma frase caracterizava sua posição: ‘Você sabe com quem tá falando? Sou compadre de fulano de tal’.”

   “Em um aspecto, sem dúvida, havia certa proximidade entre o poderoso e seu cliente. Ambos eram homens livres e, portanto, apesar da distância social, partilhavam de alguma igualdade. A partir dessa igualdade estabelecia-se o favor, a relação de compadrio e,  característico do Brasil, a prática de chamar as pessoas pelo diminutivo (Joãozinho, Zezinho), evidenciando certa intimidade. A ideologia do favor encobria a relação de poder dos grandes proprietários sobre os homens livres pobres, gerando uma falsa impressão de identidade de interesses e proximidade social” (Campos, Flávio de. Oficina de História. São Paulo: Moderna, 1999. P. 152)

   Pois bem, até hoje podemos verificar elementos do mandonismo, do patrimonialismo e do clientelismo na vida política da nação. Infelizmente nossa democracia não está completa. Falta educação, informação, senso crítico para nossos cidadãos. Caso contrário, muitos julgamentos ainda estão por vir e, o que é pior: muitos dos culpados inocentados.

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