Nada
mais apropriado para o momento, quando o julgamento do “mensalão” está prestes
a acontecer, do que buscar na história as origens do estado patrimonialista e
das práticas do mandonismo.
Tudo começa desde a chegada dos primeiros
portugueses, ou seja, no Brasil colônia. Numa sociedade marcada pelo caráter
aristocrático e escravocrata, os grandes proprietários de terras exerciam sua
autoridade sobre homens pobres, escravos e sobre a própria família. No âmbito
político, a coisa não se diferenciava. O poder público era monopolizado por
esses grandes proprietários, em âmbito local, o que resultava o uso desse poder
em benefício próprio. Neste contexto, eram comuns as rivalidades entre os
elementos dessa aristocracia pela hegemonia do poder.
Essas práticas chamadas de mandonismo local,
impediam o estabelecimento de regras claras para o conjunto da sociedade.
A partir do Brasil Império, iniciou-se o
processo de construção do Estado nacional e suas respectivas instituições. Na
regência, por exemplo, foi criado o Código de Processo Criminal, que estabelecia
o cargo de juiz de paz, que teria a função de impedir os desvios sociais e
políticos da sociedade. A questão é, que o juiz de paz era escolhido pelo voto
censitário, ou seja, quem o elegia eram esses mesmos membros da elite local.
“Havia uma pratica generalizada de troca de
favores. Os mais pobres colocavam-se à disposição dos proprietários para
eliminar seus adversários, servir de curral eleitoral e ajudar em todo tipo de
atividade que reforçasse seu poder. Em contrapartida, recebiam terras para a
lavoura, tinham seus filhos batizados pelo senhor, eram ‘protegidos’ contra
agressões, etc. A proximidade com o proprietário poderoso gerava status social. Por mais pobre e fraco,
um homem livre poderia gabar-se de sua relação de compadrio com o chefe local.
Em geral uma frase caracterizava sua posição: ‘Você sabe com quem tá falando?
Sou compadre de fulano de tal’.”
“Em um aspecto, sem dúvida, havia certa
proximidade entre o poderoso e seu cliente. Ambos eram homens livres e,
portanto, apesar da distância social, partilhavam de alguma igualdade. A partir
dessa igualdade estabelecia-se o favor, a relação de compadrio e, característico do Brasil, a prática de chamar
as pessoas pelo diminutivo (Joãozinho, Zezinho), evidenciando certa intimidade.
A ideologia do favor encobria a relação de poder dos grandes proprietários
sobre os homens livres pobres, gerando uma falsa impressão de identidade de
interesses e proximidade social” (Campos, Flávio de. Oficina de História. São
Paulo: Moderna, 1999. P. 152)
Pois bem, até hoje podemos verificar
elementos do mandonismo, do patrimonialismo e do clientelismo na vida política
da nação. Infelizmente nossa democracia não está completa. Falta educação,
informação, senso crítico para nossos cidadãos. Caso contrário, muitos
julgamentos ainda estão por vir e, o que é pior: muitos dos culpados
inocentados.
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