terça-feira, 14 de junho de 2011

Um Pouco de Cipriano Barata

O baiano Cipriano Barata aparece em vários momentos da História do Brasil. Era médico formado em Coimbra, jornalista, mas se envolveu com política. (...) "irriquieto e combativo", segundo o historiador Amaro Quintas, constava inclusive que, usava roupas feitas apenas com tecidos do Brasil e chapéu de palha, inclusive na Europa.
Era também conhecido como "homem de todas as revoluções" . Aonde tinha um movimento ou revolta entre o final do século XVIII e início do XIX, Cipriano estava lá: sempre do lado das camadas populares. Foi assim na Conjuração Baina de 1798 e na revolução Pernambucana de 1817. Participou das corte de Lisboa em 1821, já como deputado brasileiro pela província da Bahia. Pertencia a uma ala radical e as suas ideias deixaram os portugueses enfurecidos.Pressionado retornou ao Brasil voltando-se para o lado dos que defendiam a separação de Portugal.
Logo depois, fundou o seu próprio veículo de comunicação, o jornal “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco” , em 1823. Neste períodico o jornalista publicava textos combativos e agressivos contra a escravidão e na defesa da Independência. No mesmo ano foi eleito deputado pela Bahia, mas negou-se a participar da Assembleia Constituente percebendo a aproximação das tropas de D. Pedro. Alguns dias depois de fato a Assembleia foi fechada pelos portugueses.Assim, também atuou na Confederação do Equador em 1824 (embora estivesse preso por ordens de D. Pedro I). Aliás, foi um dos maiores criticos em relação ao primeiro Imperador do Brasil, acusando-o de tirania e propondo a sua deposição.
Cipriano Barata foi preso inúmeras vezes em diferentes ocasiões, a última delas com quase setenta anos de idade. Para se ter ideia de como ele incomodava a corte e o imperador, uma de suas prisões em 17 de novembro de 1823, deu o título de Barão do Recife ao seu realizador.


O historiador Marco Morel, pesquisador da Uerj e especialista em história da imprensa no Brasil, organizou e editou o livro “Sentinela da Liberdade e outros escritos (1821-1835)”, lançado pela Editora da Universidade de São Paulo. Sobre Cipriano Barata, ele diz que “foi um dos pioneiros da imprensa no Brasil e encarnava um amplo projeto alternativo de sociedade que não foi o predominante”, e sobre sua obra o autor esclarece que nela “Há algumas preciosidades, como um manifesto lúcido e contundente contra a criação da primeira condecoração honorífica brasileira, a Ordem do Cruzeiro do Sul, prenúncio, em 1822, de uma nação desigual”. 
(...)"Uma das evidências mais marcantes da liderança nacional de Cipriano Barata foi o surgimento de jornais com o nome de Sentinela da Liberdade, repetindo o título do periódico criado por este em Recife, abril de 1823 (Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco) e que serviria de matriz para outros."(...) "Deste modo, percebe-se a importância e a fama que Cipriano Barata teve em vida. Pode-se arriscar que ele percorreu trajetória inversa de um contemporâneo seu, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Este, em vida, era pouco conhecido e ensaiava seus primeiros passos na política quando foi preso e tornou-se símbolo nacional décadas depois de sua morte. Cipriano, ao contrário, foi caindo no esquecimento, conhecido apenas por grupo reduzido de estudiosos".
Pois está aí um exemplo de personagem histórico digno de ser resgatado pela historiografia, neste momento em que a vida política nacional ficou reduzida a formas de poder pessoal.

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