segunda-feira, 2 de abril de 2012

O TEMPO RELIGIOSO

Na Europa Medieval, o domínio da Igreja estendia-se também ao controle do tempo. O ano era orientado segundo os principais atos do drama de Jesus (Natal, Quaresma, Páscoa) e pelos dias santos. O dia também tinha suas subdivisões baseadas na vida de Cristo. Eram as horas litúrgicas, durante as quais deveriam ser realizadas rezas e entoados cantos sagrados. A marcação das horas era dada pelo repique dos sinos, que convocava para os ofícios religiosos e reforçava o principal objetivo dos homens medievais: a salvação da alma. Para eles, cada uma das horas envolvia um rico simbolismo e um ritual litúrgico repetido diariamente nas igrejas e mosteiros. A lembrança do auxílio divino num mundo hostil trazia segurança às comunidades cristãs.

   A partir do controle do tempo, a Igreja definia ações e comportamentos. Nos períodos considerados mais sagrados, como a Quaresma, aos nobres eram proibidos qualquer tipo de luta contra cristãos, sob ameaça de excomunhão. Era a chamada “trégua de Deus” que procurava, assim, restringir as mortes e pilhagens provocadas pela ação guerreira da nobreza e submetê-la ao clero.

Por volta do século XI em diante, com as transformações estruturais verificadas no interior da ordem feudal – o chamado Renascimento Comercia e Urbano – a maneira de lidar com o tempo transformou-se. A necessidade de controlar a produção e as trocas comerciais tornou necessária a medição exata desse tempo. O relógio mecânico assume cada vez mais o badalar dos sinos para medir as vinte e quatro horas do dia.



Reproduzo aqui, uma questão de vestibular:

UNESP Julho 08  

“As horas canônicas eram anunciadas pelo toque dos sinos, que mandavam à distância o som que funcionava como voz da eternidade, marcando o tempo de todas as pessoas. Tempo de repouso e tempo de trabalho; tempo de oração e tempo de festa; tempo de vida e tempo de morte”.   (Paulo Miceli, O feudalismo.)

“O operário transforma-se, por sua vez, num especialista em “olhar o relógio”, preocupado apenas em saber quando poderá escapar para gozar as suas escassas e monótonas formas de lazer que a sociedade industrial lhe proporciona”.  (George Woodcock, Os grandes escritos anarquistas.)

Nos dois momentos históricos descritos, considerando o cotidiano do homem, compare a percepção e o controle do tempo.



   Outra questão envolve as constantes festas religiosas como forma de reforço à fé e à religiosidade no período. Como a mentalidade pagã ainda impregnava o inconsciente coletivo, a Igreja se apropriou de antigas festas do paganismo e transformou-as em celebrações cristãs. Assim, apesar das perseguições oficiais da Igreja Católica às velhas tradições, o Ocidente Medieval europeu preservou muitas reminiscências dos velhos ritos bárbaros e romanos na mentalidade, nas festas e nos hábitos cotidianos da população. Aqui vai outra questão da Unesp, essa com um certo problema de formulação:



UNESP 11

 [Na Idade Média] Homens e mulheres gostavam muito de festas. Isso vinha, geralmente, tanto das velhas tradições pagãs (...), quanto da liturgia cristã.   (Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007.)

Sobre essas festas medievais, podemos dizer que

a) muitos relatos do cotidiano medieval indicam que havia um confronto entre as festas de origem pagã e as criadas pelo cristianismo.

b) os torneios eram as principais festas e rompiam as distinções sociais entre senhores e servos que, montados em cavalos, se divertiam juntos.

c) a Igreja Católica apoiava todo tipo de comemoração popular, mesmo quando se tratava do culto a alguma divindade pagã.

d) as festas rurais representavam sempre as relações sociais presentes no campo, com a encenação do ritual de sagração de cavaleiros.

e) religiosos e nobres preferiam as festas privadas e pagãs, recusando-se a participar dos grandes eventos públicos cristãos.

Resolução A. Alternativa escolhida por eliminação, pois o enunciado sugere muito mais uma convergência das festas pagãs e cristãs, unidas pelo gosto popular, do que um “confronto” entre elas. O que ocorreu – embora o texto não o explique – foi a condenação da Igreja a práticas de origem reconhecidamente pagã, como o Carnaval.

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